Beijo gay em horário
eleitoral causa polêmica em Santa Catarina
“O
editor do "Jornal
da Cidade", João
Francisco da Silva, atacou duramente a iniciativa, usando sua
coluna no periódico para expressar sua opinião sobre o episódio:
"Nojento aquele beijo gay exibido no programa eleitoral do Leonel Camasão,
do PSOL. Tão asqueroso quanto alguém defecar em público ou assoar o nariz à
mesa. Gostaria de saber qual a necessidade de exibir suas preferências sexuais
em público? Para mim isso é tara, psicopatia. No mínimo falta de decoro. E a
"figura" quer ser prefeito e se diz jornalista", escreveu o
editor.”
Procurado pelo Vírgula
Lifestyle, o candidato, que tem 26 anos e concorre pelo Psol, declarou que a
ideia do beijo era marcar posição contra o preconceito e sair em defesa dos
direitos da comunidade LGBT, além de promover o debate sobre o assunto. O mesmo
vídeo já havia sido utilizado na campanha do partido em 2010. Após a
publicação no jornal, Leonel Camasão entrou com um pedido à Promotoria de Direitos Humanos e
Cidadania do Ministério Público de Santa Catarina para obter um
direito de resposta. Segundo Camasão, os comentários são agressivos e vão
contra a população LGBT
(lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) e o
partido.
Leonel nos passou com exclusividade o comunicado oficial do Psol, que será
publicado no "Jornal da Cidade" em seu direito de resposta:
O candidato Leonel Camasão
lamenta a postura do Jornal da Cidade e do colunista João Francisco, ao publicarem
grave ofensa na edição de 31 de agosto. De maneira leviana, João Francisco
ataca não só a campanha e a figura de Leonel, mas também, a toda população LGBT
de nossa cidade. O ataque gratuito é uma grave ofensa aos direitos humanos e ao
Código de Ética dos Jornalistas. Repudiamos tal atitude. Ao contrário do
insinuado, Leonel se formou em jornalismo em 2008, na segunda melhor escola de
jornalismo do Sul do Brasil à época. Tomaremos todas as medidas legais para
coibir essa nefasta e preconceituosa prática deste jornal.
Por telefone, João
Francisco da Silva defendeu seu ponto de vista: “Não sou
homofóbico, dois dos meus colunistas, que são meus amigos, são gays assumidos.
Acho que os gays têm o direito de beijar como qualquer casal hétero, mas não
quero que façam isso na minha sala. Um cara que é candidato, que deveria estar
discutindo questões de importância para Joinville e para os cidadãos, fere meus
valores, meus princípios, meu senso estético com esse tipo de propaganda. Isso
foi usado como uma forma de agressão. Quem faz isso não está propondo que se
discuta a questão do homossexualismo, nem o direito das minorias. Isso apenas
me agride, agride a sociedade e até as pessoas que não têm nada contras os
gays, mas que não querem um sujeito ‘cagando’ de porta aberta, nem assoando um
nariz na toalha da mesa ou mesmo um casal hétero fazendo sexo no meio da sala
quando bem entender. A própria Rede
Globo está a três anos discutindo se exibe ou não um beijo gay
na novela e até agora nada, pois sentem que a maioria da sociedade brasileira é
contra”, disse em entrevista
ao Vírgula Lifestyle.
Questionado se é a favor do casamento
gay, o jornalista respondeu: “A legislação permite que eles se
casem, eu não sou gay então não tenho que ser contra nem a favor. Aqui em
Joinville temos um hábito de comer caranguejos, minha irmã de São Paulo veio
pra cá e ficou com nojo. É um direito dela, eu gosto de caranguejo, ela não.
Ela não tem que se adequar ao meu gosto”. Mas ela comeu para experimentar?
“Sim, ela acabou experimentando e gostou”, disse o jornalista que não se
considera um conservador.
João Francisco é avô de uma criança de dois anos e diante da possibilidade de
que um dia o neto se revele homossexual, o jornalista declarou: “Tenho certeza
de que ficaria muito infeliz, vai ser uma tristeza, mas eu o amo, não vou
deixar de amar meu neto jamais, ele é meu sangue”, disse.
Reportagem
retirada de Vírgula
Lifestyle
E mais uma vez vem à tona a homofobia nossa de cada dia ...
Será
que de fato estamos num retrocesso de valores? Ou realmente num avanço culturológico?
Onde se põe o humano acima das questões religiosas ou até mesmo nas questões
genéticas e seus processos evolutivos. Ponderando alguns aspectos da sociedade
em geral; já que estamos numa nova geração e o significado desta palavra nada
mais é do que uma nova descendência, com ciclo de mutações, sejam elas genéticas,
culturais, sociais, e/ou sexuais.
Entretanto,
ainda há muitas divergências que implicam no preconceito, por resquícios,
talvez medievais, que consequenciam uma homofobia institucionalizada, ou seja,
patrocinada por grande parte das igrejas e até mesmo o próprio Estado. Por mais
moderno que o tema em foco - Homossexualidade pareça ser, ele
sempre existiu, mas de forma natural em alguns países, principalmente na
Antiguidade, período que na verdade nem havia um conceito para tal palavra;
Aliás, a cerca de 10 mil anos atrás em algumas tribos, a homossexualidade era
exercida como forma de ritual; algumas dessas tribos localizadas nas ilhas de
Nova Guiné, Fenji e Salomão.
Ainda
há muitas perguntas a serem discutidas e respondidas. Por exemplo, a criminalização
da homofobia no Brasil; alguns divergem desta ideia, alegando que problemas
sociais e ideológicos não se misturam com questões judiciais ou penais;
acreditando que direitos penais e direitos humanos são como água e óleo. No
entanto, esta mesma ideologia pode incorrer em consequências gravíssimas, sejam
elas morais, físicas ou psicológicas. Então definitivamente, é de extrema
importância termos uma jurisprudência eficaz que assegure os direitos LGBT.
Contudo,
é perceptível que “achismos” preconceituosos não devem ser confundidos com
liberdade de expressão, principalmente quando se refere a tão falada ética no
jornalismo; por mais estranheza que aparente à alguns, há de se respeitar esta
diferença se quisermos de fato vivermos numa coesão social, mesmo que ampliada
e/ou modificada o conceito desta.
Maria Carolina F. Dutra